Control - Cap 3 - Mente criminosa

Estava encolhida em um canto do banheiro. A água não pingava mais, e meu corpo nu estava coberto com uma toalha de banho que a essa altura já estava encharcada. Um silêncio agradável permanecia na minha mente, e eu agradecia por isso mesmo que fosse por míseros segundos. 

Tinha sido uma pequena guerra para expulsar Molly do banheiro, mas as suas palavras repetiam na minha cabeça enquanto eu pensava no assunto. 

"Eu tenho um lugar onde você pode ir. Tem baús de ouro e glória, mas se você quer isso eu preciso que você faça exatamente o que eu te falar "

Uma batida na porta me fez voltar à realidade, enquanto uma voz conhecida me chamava. 

— Scarlett? Você tá bem ? Já faz um tempo que você está aí.. E bem, eu fiz um macarrão! — Lia era o tipo de amiga que nunca te deixava na mão, e que te conhecia tão bem quanto ela mesma. 

Senti um respirar pesado do outro lado da porta e me culpei por ter ficado calada por tempo de mais, então respondi o mais rápido que pude antes mesmo que ela pensasse em bater novamente 

—Estou bem..Estou bem.. Já estou descendo..

— Tudo bem, venha rápido! Temos visitas! — Escutei ela suspirar antes de sair devagar me deixando sozinha com os meus pensamentos. 

Me levantei com dificuldade e tentando batucar uma música em minha cabeça para não trazer criaturas indesejadas. Minha curiosidade era súbita da mesma forma que não sabia o que vestir pois não sabia quem era a visita, mas tentei colocar algo confortável e bonito ao mesmo tempo e desde o mais rápido que pude com o meu vestido florido é uma rasteirinha, mas quem eu achei na minha sala de estar não foi nenhum amigo mas sim, a polícia.

— Boa tarde, senhorita! Viemos falar sobre o assassinato de  Ellen Mightow! Poderíamos fazer algumas perguntas? 

Engoli em seco e senti meu corpo todo tremer mas tentei permanecer normal, e apesar de querer dizer não, tirar os meus sapatos, os expulsar dali e maratonar uma série qualquer, falei o que eles queriam ouvir. 

— Mas é claro! Aqui mesmo? Ou vocês preferem ir para outro lugar? 

— Não se preocupe, aqui está ótimo — O policial a abriu um bloquinho e pegou sua caneta e eu logo em seguida sentei em um dos sofás e tentei espiar o seu nome. Hudson — Você conhecia a senhorita Ellen? 

— Apenas de nome, mas não tínhamos nos encontrando antes daquela noite! — respondi logo em seguida, pensando se seria melhor dar um intervalo entre a pergunta e a resposta.

— E vocês conversaram aquela noite? 

Fiquei quieta. Melhor dizer sim ou não? 

— Eu.. Senhor.. Eu ...

— Você? 

— Eu realmente não me lembro! — falei finalmente, sentindo uma dor de cabeça começar. 

Ele me olhou por alguns segundos com uma feição curiosa. É por um momento achei que ele iria se levantar, me declarar culpada e me levar lar a prisão tirando tudo de mim, principalmente minha dignidade, mas ele apenas continuou com as perguntas.

— E o que você lembra daquela noite? 

Tentei pensar em o que poderia dizer. Não poderia me declarar culpada. Eu sei que fui eu que a matei mas quero ir atrás do ouro, e atrás das grades não vai dar. 

— Nada! — respondi simplesmente só então olhando para o rosto do policial que me encarava incrédulo — Estava tendo quedas de pressão aquela noite e não estava me sentindo muito bem, quando pensei que estava melhor fui ao banheiro, a partir dali não me lembro de mais nada. 

— Então está me dizendo que desmaiou no banheiro e não viu nada do que aconteceu no banheiro?

— Exatamente.. Ou melhor, acho que foi isso ... Estava muito fraca quando entrei no banheiro, minha visão estava escura e de repente não me lembro mais nada — menti me sentindo confiante, pelo menos estou contando a mesma versão que contei para Lia, ou quase. 

— Eu sei que você disse que não a conhecia bem, mas fofocas sempre existirão, por acaso você tem alguma ideia de alguém que possa ter algum motivo para ter feito isso? 

Neguei com a cabeça, mas achando que era muito pouco concretizei meus pensamentos em palavras. 

— Não estou por dentro das fofocas, mas a única coisa que tenho a dizer é que ela é nova na indústria da moda, não posso dizer de tudo, mas dessa indústria maior tenho certeza. 

— Está certa, senhorita! Mas preciso dizer que ela estava no seu último desfile! O que tem a dizer sobre isso? 

O que tem a dizer sobre isso? Ele acha que o que? Que eu menti que não tinha visto ela?. Estava dopada, claro que não lembraria dela. O fato que não poderia falar isso, ou senão seria presa, mas não por assassinado. 

— Não vou mentir, estava com a cabeça no mundo da lua, e não quis ir atrás de cronograma como as outras pois eu sabia quando precisava entrar, então apenas fiquei na minha. Então não, eu não a vi ali em nenhum momento, nem prestei atenção! Agora se vocês não tem mais nenhuma pergunta eu preciso pegar um remédio para dor de cabeça. 

— Não temos mais nenhuma pergunta, qualquer coisa voltamos, mas gostaria muito de perguntar, ressaca? 

Suspirei cravando minhas unhas em minha mão, eu sei que era seu trabalho, mas às vezes me irritava. 

— Coloquei no máximo um gole de álcool na boca, mas não mais do que isso. Se quer um álibi para tudo, ou melhor, quase tudo o que eu falei ontem a noite, uma tal de Marcela me ajudou quando eu não estava bem, além de muitas outras pessoas que viram a cena. Agora eu realmente preciso ir! — Fui atrás dos remédios apressadamente nem esperando uma resposta. 

Peguei o que precisava e consegui escutar Lia falando antes da porta se fechar. Ela mencionava um tal de John alguma coisa, alegando ter ouvido falar que ele e Ellen não se davam nada bem desde a época da escola.

Então escutei passos se aproximando. Não era Lia. Era Molly. A percebi no final do corredor sorrindo. 

— Sabia que você iria fazer o que era certo! Mas preciso saber você vai aceitar minha proposta? Você sabe que é extremamente boa e você vai ganhar muito.. E outra esse remédio não vai te ajudar em nada. Guarde. 

A encarei por alguns segundos e não falei nada, apenas guardei o remédio. Ela sabia que não era apenas um ato, mas uma resposta. Um sorriso apareceu no seu rosto e ela veio devagar em minha direção. 

— Scarlett, você tá bem? — Lia apareceu repentinamente ao meu lado. 

Olhei imediatamente para figura de Lia que fez um simples sinal para que eu ficasse quieta enquanto andava para trás. A minha cabeça não doía mais, pelo menos não como antes, e as vozes voltaram, mas dessa vez como sussurros. Eu sentia que elas tinham um plano para mim. 

— Estou ótima! Apenas com fome! — Dei um sorriso tentando parecer bem com entusiasmo e talvez uma pitada de humor. 

— Bem o macarrão ainda está na mesa. Frio, mas nada como um microondas! — ela devolveu o sorriso e logo caminhamos as duas em direção à cozinha. 

O tempo parecia se passar devagar, e o 'Tick Tack' do relógio batucava na minha cabeça. Estava eufórica e ansiosa, esperava as ordens mas elas não chegavam, apenas sussurros como se estivessem discutindo e me deixando totalmente de fora. Então silêncio e meu corpo se acalmou também. Lia falava mas eu não a escutava. Minha mente estava em lugar nenhum e senti um frio percorrer o meu corpo. 

— Acho que vou assistir alguma coisa! — Deixei o prato com metade do macarrão na pia e segui para a sala, ligando em um canal qualquer. 

Uma onda de tristeza invadiu o meu corpo e a única coisa que estava com vontade era ficar quietinha em baixo de um cobertor quente. 

— Então você não vai comigo? 

Neguei com a cabeça. A verdade era que nem sabia para onde ela queria ir, só não estava afim de sair para lugar nenhum. Minhas pálpebras pesavam e senti meu corpo começar a suar levemente, mas eu estava tremendo. Será que estava doente? Com febre? 

Uma silhueta estava parada na minha frente. Era óbvio demais que ela não sairia da minha casa comigo daquele jeito, e eu não queira me esforçar para fingir que estou bem, afinal, não estou com forças nem para sair do sofá.  Apenas segundos depois percebo que a silhueta não está mais lá e um pano úmido é colocado na minha testa. Não, acho que não estava com febre mas eu conseguia avistar uma criatura inteira preta pela janela. Meu coração começou a bater mais forte.

— Eles estão vindo atrás de mim! Preciso sair daqui! Eles descobriram onde eu moro! — Falei em voz alta fixando meu olhos janela a fora. Lia era minha melhor amiga, sei que ela me entenderia, ou melhor, ela iria me ajudar. Os coisos pretos estavam ali.


Março 2008

—Estamos muito próximas, e preciso te contar antes que algo aconteça. Existem criaturas do mal, eu os chamo de coisos pretos , eles são altos e inteiro negro, quase como se fosse uma sombra, sem expressão nenhuma, mas eu posso te garantir que eles não querem teu bem, se você os vir, corra. 

Olhei para ela com medo imaginando as criaturas na minha frente sem ter como me proteger. Pequena e indefesa.

— Ei calma, não falei isso para te assustar, apenas para te alertar, prometa para mim que terá cuidado? — Molly disse segurando minhas mãos com força. 

Assenti tentando mostrar uma postura de coragem. 

No mesmo dia contém a história para minha mãe. Um tempo depois comecei a tomar uns remédios estranhos e Molly parecia que estava vindo me visitar cada vez menos.



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