HEART BEAT

 Fevereiro 2020

A garota dançava em seu quarto com algumas músicas de pop dos anos 2000, eram uma das suas playlists preferidas e poderia ficar horas a escutando, relembrando os tempos da sua infância, ainda era muito estranho para ela pensar que estava com 18 anos, e que as crianças de hoje em dia não conheciam "Just Dance" da Lady Gaga. 

– Vamos, Sarah, senão fica muito tarde! – disse sua mãe na porta do seu quarto.

– Estou quase pronta, dai eu te chamo!

Era um sábado quente de verão, e para aproveitar iria ir na casa da sua melhor amiga, Nicole, assim a mesma não iria ficar sozinha enquanto os pais saiam e ambas poderiam aproveitar a noite com uma mistura de pizza, sorvete, algum filme de terror e dormir na sala. Sua bolsa estava quase pronta, afina, não precisava de muita coisa, apenas o básico de higiene para uma noite, uma roupa para o outro dia e um pijama. 

As oito horas estava na frente da casa da melhor amiga que já estava morrendo de fome com a espera, porém ambas tinham feito todo o plano já era passado das cinco horas da tarde.

– Podemos pedir a pizza? – pediu a morena fazendo alguns movimentos com a mão.

– Mas é claro! Pode escolher do que quiser, menos com fruta em cima!

– Nunca.

A loira fechou a porta atrás de si e ambas foram até o sofá onde a morena resolveu que era o momento de ver todo o cardápio da pizzaria, enquanto Sarah tentava já adiantar a escola do filme, já que ambas apesar de terem um gosto muito semelhante para filmes, sempre demoravam um tempão para escolher, pois sempre queriam escolher o melhor. Mas depois de alguns bons minutos, elas não tinham ainda nenhum filme escolhido,  e resolveram pegar as ideias iniciais para a pizza, texas e calabresa.

– Eu ainda não acredito que tu saiu escondida aquele dia! – Sarah comentou relembrando da historia da amiga, que saiu no meio da noite para se encontrar com o menino que estava conversando.

– O problema maior é que a minha mãe soube depois!

– Pera, essa parte você não tinha me contado.

– Bem, ela me deu um sermão, eu tive que contar sobre ele, porém apesar de tudo agora ela está mais de boas, e meu pai meio desconfiado, mas ainda bem que ela não falou nada para ele, senão eu estava ferrada. Mas o que é aquele papo de conversar com gringo?

Sarah logo deu um sorrisinho. A algumas semana havia visto uma recomendação no tiktok falando para voltarem a usar o snap, e dessa vez vinculado ao um aplicativo chamado hoop, tanto para aumentar o nível de inglês e pois tinha muita gente bonita.

– Pera ai, vou te mostrar! 

A garota abriu o aplicativo e ambas se juntaram ainda mais para olhar para a telinha do celular.

– Bem, eu estou conversando com esse americano, ele foi o primeiro com quem eu conversei, tem esse francês safado que me mandou mensagem hoje, e mais um monte de gente com conversa rápida e alguns "foguinhos" – ela disse se referenciando ao sistema de se você recebe uma foto e você manda para pessoa pelo menos uma vez por dia vocês começam a ter algo chamado "foguinho" um emoji com um número do lado, não serve para nada, porém atrai pessoas competitivas.

– Vamos mandar uma mensagem pro francês para zoar! – disse a morena com um sorrisinho e eu alcancei meu celular para ela.

Em menos de cinco minuto já tínhamos uma foto do menino mas sem suas roupas, e ele tinha uma foto que tínhamos achado na internet. 

Naquela época ela ainda tinha controle e conseguia responder todas as pessoas do seu snapchat e ver tudo o que mandava. As duas conversaram com todos, deram muita risada, gravaram vídeos e se divertiram com os filtros, até achar um que ao mesmo tempo que tinha uma aura de anjo, tinha um chifre de diabinho. 

– "O que é anjo, o que é o diabinho?" quem criou esse negocio ai? – disse a loira dando risada da bagunça do filtro. 

– Vamos mandar para todo mundo que você adicionou com uma legenda para eles responderem!

– Boa! Mas qual a legenda?

– "Quem é o anjo, e quem é a diabinha?" 

E assim a foto foi encaminhada para várias pessoas, inclusive pessoas que Sarah nunca tinha trocado uma palavra, porém todos estrangeiros e novos na sua rede de contato. Nesse mesmo momento a campainha tocou indicando que a comida tinha chegado. 

No mesmo tempo que estavam jantando muitas pessoas foram respondendo as duas, a grande maioria falava que a loira era o anjo, e a morena a diabinha, alguns falaram ambas são os dois, e outros simplesmente as ignoraram, mas teve uma resposta em especial.

"1- é a diabinha e 2 o anjo"

– Quem é um e quem é o dois? – Sarah olhou para Nicole com o cenho franzido, elas não tinham colocado numero nenhum. 

– Pergunte!

Mais uma foto das duas juntas e uma legenda "Quem é 1 e quem é 2?"

E em poucos segundos a resposta já veio, "Você é o dois"

– "Você" quem? – agora foi a vez da morena de ficar meio perdida com toda a situação.

"E como você sabe quem sou eu?"

"Você é a loira da direita" 

– Mas como ele sabe? A gente nunca conversou! – Sarah perguntou algo que sabia que a amiga não saberia a resposta, mas que ainda estava na sua cabeça, talvez ele lembrasse do seu perfil no hoop, talvez..

– Vamos ver uma foto dele, acho que ele postou uma no story – A amiga clicou no pequeno botão ao lado do nome do mesmo. 

– Meu deus, ele é muito lindo! – Os seus olhos brilharam ao ver a foto dele na frente de um espelho grande, segurando o celular, uma camiseta preta e cabelos castanhos claros. 

– Thomas Murphy! – a morena pronunciou o seu nome – Ele é realmente muito bonito, vamos tentar achar ele no insta. 

E com alguns toques o perfil foi revelado, e a mesma foto que estava no story do snapchat havia sido recém postada no instagram.

 – Eu não vou seguir ele ainda, vai me achar uma stalkear louca! 

E o nome dele apareceu na barra de notificações.

– Ele te mandou mais alguma coisa! – a morena surtava ao lado – Vamos esperar para ver, e pensar certinho no que responder. 

"Tudo bem contigo?"

– MEU DEUS, O QUE EU RESPONDO?


heart beat - 1

 Outubro - 2076

A companhia tocou duas vezes antes que Thomas seguisse até a porta. Não estava esperando ninguém, seus filhos estavam no trabalho ou morando em outra cidade, enquanto sua esposa estava na cozinha tentando a sorte com um bolo de cenoura que havia achado a receita na internet, a tecnologia da casa ajudava lembrando dos detalhes e ele podia escutar "Uma xicara de farinha, Dona Amberly", mas o que o fez se assustar foi os dois policiais na sua porta.

– Thomas Murphy? – disse a policial de cabelos loiros que aparentava ter trinta e poucos anos.

– Eu mesmo – disse o homem que já tinha 77 anos de idade, mas ao mesmo tempo uma saúde impecável e uma disposição incrível.

– Eu sou a Amanda e esse é o Eric, somos da policia canadense com ligação ao Brasil. Você conhecia a Senhora Sarah Mendes – a mesma policial disse novamente, e só assim ele pode perceber que o sotaque da mulher em francês era um pouco diferente. 

Mas o que o chamou atenção não era o sotaque da mulher, mas aquele nome, e o que ele causava mesmo depois de tantos anos. Era claro que ele conhecia Sarah Mendes, e não era apenas o conhecer, mas o que aquele nome causava em seu coração e sua mente, mesmo depois de tantos anos, depois de tudo, seu coração ainda batia mais forte quando escutava aquele nome. 

– Conheço, sim, senhora! O que ela tem haver?

Os dois policias pararam por alguns segundos dando uma pequena olhada um para o outro, e dessa vez foi o homem que começou a explicação.

– Ela faleceu na última segunda-feira, e temos um assunto muito importante para falar com o senhor, será que poderíamos entrar?

Sua voz tinha saído calma, mas para Thomas o seu coração não parecia concordar muito com a palavra "calma", uma parte era por que razão eles estavam ali, ambos não conversavam havia mais que 50 anos, mas outra parte era pois ele ansiava por contatar ela, mas como poderia? Tinha uma família, uma vida feita, não era hora de colocar a mão no passado, porém a noticia de sua morte realmente o tinha abalado. 

– Podem sim! – não sabia quanto tempo tinha ficado em choque, mas finalmente resolveu dar um espaço entre ele e a porta para que o canadense e a brasileira entrassem.

Os três se deslocaram para o sofá, e por um instante ele torceu para que Amberly, sua esposa, resolvesse não aparecer no meio da conversa e continuasse com o seu bolo.

– Bem, na verdade todos nós achamos muito estranho, porém a senhora Mendes deixou um testamento antes de morrer. Sarah acabou construindo um império bilionário, com diversas terras, empresas, e uma vida de puro luxo, porém a mesma nunca teve nenhum filho, e seu marido morreu junto com ela. Assim ela dividiu sua herança com o seu irmão mais novo, sobrinha, primo, sobrinha neta, algumas doações e com você...

– Pera, eu? – Thomas pronunciou surpreso, essa era a última coisa que ele esperava ouvir ali, na verdade ele nem sabia o que esperar, e tudo realmente estava como uma grande surpresa. 

– Sim, o senhor! – a loira pronunciou dando uma leve pausa – por isso que viemos aqui, para que você possa assinar alguns papeis, normalmente isso demoraria algum tempo, principalmente pois dona Sarah estava morando na Europa, mas como a mesma é nativa brasileira, tivemos que colocar muita coisa no meio, porém esse caso foi tratado como algo de urgência, precisamos resolver tudo agora!

A sala ficou em silencio por alguns minutos enquanto um papel e uma caneta foram colocados na mesa de centro com cuidado, o senhor pegou-a na mão percebendo a grande quantidade de dígitos que tinha aquela herança, era realmente muito dinheiro. Foi nesse momento que Amberly apareceu na porta. 

– Olá, senhores, policiais! Como vocês estão? Querem alguma coisa? Água?

– Tudo bem, senhora, não precisa! – disse a loira novamente com o seu francês impecável. 

O idoso olhou para a esposa que a encarou com um sorriso falso. É claro que ela havia escutado tudo, estava velha, não burra. 

– Eu não posso aceitar! – Ele disse colocando novamente o papel em cima da mesa. 

– Mas, senhor, eu preciso te passar esse dinheiro, é a lei! 

Amberly veio andando retirando o papel de cima da mesa novamente e dando um grande sorriso depois disso. Ambos tinham uma qualidade de vida extremamente boa, eram classe média alta, porém aquilo mudava toda a situação. 

– É a lei, meu amor! Você precisa aceitar – Ela empurrou o papel e a caneta em direção ao marido – E se essa mulher for voltar para a sua vida que seja por algo bom como esse. 

Ele a olhou com um olhar neutro, já estava cansado de toda essa situação, na verdade no fundo já estava cansado a um bom tempo, devia ter feito igual os pais, se divorciado.

Então finalmente o fez. Pegou a caneta e assinou o papel, transferindo todo o dinheiro para a sua conta do banco com apenas uma assinatura, apenas alguns segundos. Mas ela estava morta, isso não a traria de volta, não mudaria aquele fato e nenhum outro. 

– dona Amberly, o seu bolo está quase pronto – IDA, a inteligência artificial disse pelas paredes da casa, o que fez a mulher de 70 anos dar um sorrisinho voltando para a cozinha sem ao menos se despedir. 

– Deixa que eu levo vocês até a porta! – ele pronunciou depois de uma bufada, talvez aquela visita o fez repensar muita coisa de sua vida. – Mas será que poderia perguntar como ela morreu? No caso.. eles.

Todos seguiram até a porta da frente, mas foi apenas depois de encontrar a porta atrás deles que os policiais começaram a contar, ambos tinham percebido a situação estranha que tinha ficado com a esposa e não queriam arrumar mais confusão. 

– Foi por um tiro, um ladrão entrou na casa e matou os dois, porém saiu sem nada pois foi pego logo no portão pelos seguranças. O casal foi encontrado no quarto principal. 

Aquilo era pior do que ele pensava, não conseguia imagina o pavor, começou a se questionar se tinha sido algo rápido e que no final não havia nem percebido que uma bala tinha atravessado a sua cabeça, ou se tinha sido algo pior, horas de agonia, talvez até uma tentativa falha de reanimação. Nesse meio tempo não percebeu que Eric tinha ido até o carro e voltado com uma caixinha com uma carta.

– Também pediram que isso fosse entregue nas suas mãos! Agora nós temos que ir, uma boa tarde para o senhor. 

A caixinha e a carta estavam em suas mãos, a mesma era extremamente leve e tinha uma cor marrom cobre com alguns desenhos esculpidos a qual ele não sabia indicar, mas o tamanho era perfeito para que os colocasse no bolso da sua jaqueta. 

 – Eu não acredito que essa vagabunda apareceu assim desse jeito, pelo menos não foi em carne – Amberly pronunciou da cozinha quando percebeu que ele havia fechado a porta da frente – E deixou uma boa quantia de dinheiro, mas do mesmo jeito, que louca! Muito estranha, sempre achei e sempre te falei. 

– Aham – a verdade era que não estava afim de discutir, principalmente por causa disso. 

Era ciúmes, é claro que era. Ela sempre soube sobre ela, ela sempre soube sobre eles, e no fundo ela tinha aplicado o golpe, e sabia que não poderia fazer nada em relação ao passado dele, é claro que ficaria com ciúmes, mas estava cada vez mais fora dos limites, falando mal de uma mulher morta?

Mas ele não iria ficar e discutir sobre isso, tinha coisas mais importantes a se fazer, como ler aquela carta e entender o que era a caixa, iria deixar a louca que tinha se cassado falando sozinha, ele que não iria se estressar, era era assim desde os 19, não era aos 70 que iria mudar toda a sua personalidade. 

E finalmente quando estava sozinho abriu a carta.

" Oi, Thomas!

Sempre te disse que eu gosto de escrever, sou a moda antiga, cara, adoro um bom papel! Mesmo que todo mundo me falasse desde mais nova "usa o computador", mas gente, deixa eu! 

Se você está recebendo isso quer dizer que .. EU MORRI!! Mortinha, 6 palmos do chão, brincadeira, estou não, nunca quis ser enterrada, mas isso é uma outra historia, fato é que eu morri, não estou mais nesse plano, e você provavelmente recebeu a visita de algumas pessoas de uniforme te avisando sobre isso, e também deixando uma grande graninha para você, e provavelmente você deve estar confuso com tudo isso, e bem, é bem difícil de explicar, mas vou tentar. 

Você sempre soube que tivemos uma conexão, e foi desde o começo que começamos a conversar, era mesmo com que estivéssemos tão longe, nós estamos tão perto, como se já nos conhecêssemos a tanto tempo, e eu como espirita, preciso dizer, não é dessa vida, meu bem! Mas você foi aquele que se foi, e mesmo assim tu continuava na minha cabeça, QUE FEITIÇO TU FEZ COMIGO? brincadeiras a parte, eu deixei você viver a sua vida, eu não tinha o que fazer.. pegar um avião e viajar 8000 km e brigar contigo?  brigar com ela? acabar com o teu casamento? entrar no meio da família que tu tinha começado? do teu filho? 

Eu não sou dessas eu nunca vou ser, e eu estava muito bem comigo mesma, então continuei assim e bem, construí todo o meu império como te disse que faria.

Agora que já estou morta que se exploda, mas eu sempre gostei de você e provavelmente sempre vou, podemos nos encontrar na próxima vida talvez. The one that got away da Katy Perry entrou totalmente na vibe. 

Ta, vou dar uma resumida, senão você me mata de novo pela demora, mas faz uns bons anos que comecei a focar ainda mais na minha espiritualidade e algumas coisas de bruxaria branca e lados ocultos, e o mesmo foi aflorando muito em mim, mas muito, estou tão bem e plena que você não tem noção, mas você começou a aparecer em tudo, eram flashes, sonhos, imagens, e até mesmo comecei a ter mudança de plano e conseguir ver pequenas cenas do seu dia a dia. 

O foda foi quando tinha uma aparição, ela era tão linda e brilhante com uma voz suave e eu podia sentir o aroma de tulipas, e ela me disse que eu não tinha muito tempo de vida, e que precisava te mandar essa caixinha, me passando aonde eu iria encontra-la, e confesso que não sei o que ela faz, e estou extremamente curiosa, porém não tenho mais como saber, e nos meios dos pensamentos resolvi que também deveria te deixar um pouquinho de todo o dinheiro, faz tanto tempo, espero que você ainda esteja ai!

BEIJOOOOSSS

-Sarah!

(viu como meu francês ainda está bom?)"


Ele acabou a carta com um sorriso no rosto ao mesmo tempo que lagrimas escorriam pelo mesmo, ela não tinha mudado, ainda tinha aquela vibração e energia que só ela tinha, mesmo que fosse uma carta.

 Ele sentia sua falta, essa era a grande verdade, e nesse momento percebeu como havia errado, como deveria ter feito diferente, como não deveria ter tido medo da distancia, de não dar certo, assim não teria se envolvido com Amberly só para poder esquecer de Sarah, ou poderia ter feito diferente depois, deveria nunca ter se casado, ou ter se divorciado depois. Deveria ter comprado uma passagem para o Brasil e ter ido para o sul encontrar aquela menina mulher antes que fosse tarde demais. 

Mas foi bem nesse momento em meio a tantos pensamentos que a caixinha vibrou uma luz forte que era uma mistura entre verde e roxo, e as vezes somente branca. Tudo parou no mesmo tempo, o vento lá fora, os relógios da parede, Amberly que estava colocando os pratos na mesa com um sorriso malvado no rosto, os pássaros voando no céu, a menina mascando chiclete e a chuva em uma cidade distante. Tudo tinha parado, menos a caixa e Thomas. 

– Thomas – a caixa sussurrou calmamente, e pela primeira vez no dia finalmente estava calmo, estava por alguma razão muito bem. 

Ele passou as suas mãos um tanto que já enrugadas até a caixinha a pegando para si e todo o ambiente mudou. Ele estava no nada. "Morri?" pensou. Mas estava literalmente dentro do preto com as mesmas luzes de antes, mas ainda mais brilhantes, iluminando tudo. E como um flash tudo da sua vida começou a passar na sua frente, não apenas como imagens, mas como se conseguisse lembrar de tudo ao mesmo tempo.

"Vish, é agora mesmo que eu morri" veio outro pensamento, até que tudo parasse, toda aquela velocidade, agora o que ele estava enxergando era o mundo, era tudo o que tinha ao redor, independente da distancia ou do país, até tudo parar, e voltar ao simples nada.

 – Thomas? – disse a voz novamente – Você consegue me escutar?

– Sim, eu morri? 

– Não, ainda não! Preciso te perguntar, se você tivesse uma chance de recomeçar você faria?

–Depende! Em relação ao que? – Ele falou relembrando da sua vida até aquele momento já que estava vivido em sua cabeça.

Tinha filhos e netos a qual amava, mas a qual os via bem menos do que ele esperava, tivera uma vida com amigos verdadeiros, risadas, uma profissão a qual gostava e finalmente abriu a empresa que queria, porém se casou com quem não amava, e por causa disso acabou se afastando dos pais e irmãos, e perdeu a chance de ficar com quem queria realmente, e nos últimos anos estava realmente apenas vivendo. 

– Bem, Thomas, em relação a exatamente isso que você está pensando! Você voltaria para 2020 antes do seu aniversário de 21 anos, porém não lembraria de nada, nada do que viveu até aqui e muito menos dessa conversa e da sua escolha, você pode mudar sua trajetória, ou também pode acabar fazendo as mesmas escolhas ruins e acabar aqui, porém sem mais essa oportunidade, e caso você não aceite também vai esquecer de toda essa conversa, o que você me diz?

– Não, eu devo estar dormindo, ou sei lá.. drogado?

– Eu prometo, tudo isso é real

Uma pequena luz veio o que o fez balançar um pouco a sua cabeça e ele pode sentir toda a energia, podia sentir tudo, podia de alguma maneira saber que era real.

– Aceita a segunda chance?

– Sim, porém ao mesmo tempo eu não sei – Sua confusão estava nítida, queria perder tudo o que havia feito?  Queria começar tudo de novo? Mas ao mesmo tempo estava infeliz... 

Até que uma parte de toda conversa veio em seus pensamentos.

– Quando eu te perguntei se eu estava morto, você me disse "ainda não", o que você quer dizer com isso?

– Que você vai. Hoje as oito horas da noite, Amberly vai ligar para a policia falando que encontrou o seu corpo, ataque cardíaco, é o que ela vai dizer, quando na verdade foi ela quem fez o seu leito de morte.

Sua boca ficou seca e estava pasmo, e um detalhe veio em sua cabeça, quando estava atordoado com toda a situação, sua esposa adicionou também um papel para o mesmo assinar, passando todos os seus bens para ela. O outro plano estava mostrando esses pequenos detalhes que ele nunca perceberá. 

Aquilo era o fim da linha.

– Tudo bem, aceito!

– Boa viagem, Thomas.

E tudo escureceu. 





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