Control - Cap 2 - Molly

Vozes cochichavam no meu ouvido, mas eu não entendia nada. Eram apenas sussurros distantes. Sussurros incompreensíveis e distantes. 

Então meus olhos se abrem, e os sussurros somem. Dou uma pequena olhada pela quarto e encontro Lia inquieta caminhando de um lado para o outro. 

— Lia ? Você está bem? — pergunto calmamente enquanto minha mente processa o que aconteceu e como eu tinha chegado ali, mas eram perguntas que não se obtinham respostas. Minha mente não tinha as respostas. 

Lia se vira para mim no mesmo momento que minhas palavras são pronunciadas, e ela vem rapidamente até a mim sentando-se ao pé de minha cama. 

— Scarlett eu preciso que você me conte o que aconteceu ontem a noite! Por favor...

Ela não estava brava, nem irritada, mas falou de um modo sério mas nervoso que me arrepiou a espinha como se tivesse feito algo muito errado na noite anterior, mas a verdade é que eu não me lembrava de absolutamente nada de depois de ter entrado no banheiro. 

O engraçado é que eu tinha certeza que não tinha nenhum tipo de droga atuando no meu metabolismo, da mesma forma que eu tinha certeza que tinha bebido pouquíssimo, e não tinha nem chegado perto de ficar bebada o bastante para esquecer  o que tinha acontecido, então o que aconteceu na noite anterior ainda continuava um mistério para mim. 

E foi assim que um silêncio permaneceu no quarto. Eu não tinha as respostas. 

— Por favor, só me diga que você não tem nada haver com isso.. — Ela pronunciou antes de se levantar e começar a caminhar novamente de um lado para o outro. 

— Isso o que, Lia ? — Finalmente me levantei da cama, percebendo que tinha dormido apenas de lingerie. 

Ela parou de andar e veio novamente até a mim com a respiração um pouco ofegante. Passou as suas mãos pelos meus braços e repetiu a pergunta:

— O que você fez ontem à noite? 

Não falei nada. 

— SCARLETT

— EU NÃO ME LEMBRO! — Falei irritada me livrando de seus braços e indo em direção ao banheiro. Precisava de um bom banho — Eu simplesmente não me lembro o que aconteceu depois que entrei no banheiro, e não faço a mínima ideia de como cheguei até aqui! 

Fechei a porta do banheiro de imediato e comecei a abrir o fecho do meu sutiã, mas parei logo em seguida que Lia começou a falar novamente. 

— Scarlett, você veio de ambulância até aqui...

Abri a porta novamente segurando o sutiã do jeito que eu podia enquanto a encarava incrédula. 

— Ellen foi morta ontem à noite. Algumas garotas que queriam usar o banheiro perceberam que a porta estava fechada, como também perceberam a poça de sangue que se formará embaixo da porta. Ao abrirem a porta estava apenas Ellen, e você.. Você estava deitada desacordada ao lado do corpo morto de Ellen. Então você lembrando ou não, é a última pessoa que ela viu, como também... Está na lista de suspeitos.. — Ela suspirou voltando o seu olhar para mim — Eu sinto muito! Disse a eles que não poderia ser você que fez aquilo, mas tem muitas pistas contra você.. Mas também acham que pode ter sido alguém que poderia ter armado contra vocês duas. 

Fiquei quieta por alguns segundos sem saber o que falar ou fazer. 

— Eles querem que eu deponha? — Perguntei com o meu olhar em olhar nenhum, enquanto minha mente vagava em todos lugares possíveis em poucos segundos. 

Ela apenas assentiu, mesmo que minha mente esteja distante percebi o pequeno movimento, mas não fiz nenhum em troca. 

— É melhor você ir tomar banho. Tente esquecer isso.. Ou tente lembrar o que aconteceu.. Não sei.. Só vá — Ela encostou suas mãos frias nos meus braços novamente o que me fez dar uma pequena acordada e passar o meu olhar para ela.

Concordei com a cabeça e fechei a porta. 
Finalmente sozinha.

Tirei o restante das minhas roupas e entrei de baixo do chuveiro, deixando a água escorrer sobre minha pele. 

— Você fez seu trabalho muito bem, Scarlett — Disse uma voz estridente atrás de mim. Me virei rapidamente, mas novamente não havia absolutamente nada. 

— Não é real. Não é real! — Repeti algumas vezes enquanto tentava controlar a minha respiração. 

— Você a matou muito bem.. — A voz disse novamente. 

— Eu não fiz isso.. 

— fez 

Fechei os olhos e tentei controlar minha respiração novamente. Era apenas minha imaginação. Então pequenos flashes da noite passada iam e viam na minha cabeça. Os olhos sem vida de Ellen. O jeito como o vidro entrou na sua pele, e o sangue que escorria. Um pequeno arrepio percorreu o meu corpo. 

— você gosta disso não gosta? — disse a voz antes de diversas risadas diferentes e iguais ecoarem em minha cabeça 

Neguei diversas vezes com a cabeça enquanto as risadas apenas aumentavam. As risadas eram de deboche. As risadas eram de convecção. As risadas eram de alegria e vitória. As risadas eram cruéis. 

Coloquei as mãos nos ouvidos tentando fazê-las parar. Nada. Então eu deslizei o meu corpo pela parede úmida do banheiro até chegar no chão. E chorei. Tentando fazê-las parar sem resultado nenhum. Os "parem" não pareciam adiantar. 

Então as risadas cessaram. Levantei a cabeça tirando as mãos do ouvido. Não me levantei de imediato. 

Vi a figura de uma garota parada na minha frente, há alguns metros, apoiada na parede. Sua cor parda e seu cabelo escuro não era novidade para mim, eu sabia muito bem quem ela era.

— Molly — pronunciei baixo, mas foi o suficiente para ela escutar e abrir um grande sorriso. 

— Eu tenho uma coisa para te falar, velha amiga! 


Novembro, 2007 

O frio já havia chegado, o que deixava as coisas ainda mais divertidas para a espera da esperava neve, mas naquele dia minha felicidade não tinha a ver com a neve, e sim que era dia de parquinho. 

Sai correndo para os balanços, mesmo não tendo ninguém no brinquedo que eu queria,  não queria que ninguém sentasse no meu balanço preferido. Foi aí que eu percebi a presença de uma garota há alguns metros de distância do meu balanço preferido. Há alguns metros de distância de mim. Ela se aproximava aos poucos balançando os cabelos compridos e negros.

— Oi! Eu sou a Scarlett, quer brincar comigo? — perguntei logo em seguida que me aproximei dela. 

Ela sorriu. Parecia triste. Então sorri de volta. Não gostava de ver os outros tristes. 
Ela concordou com a cabeça, e eu logo sentei no balanço e ela me ajudava a empurra-lo para frente e para trás. 

No final do dia tínhamos brincado de muitas coisas diferentes, mas ela não tinha falado nenhuma palavra, nem o seu nome foi mencionado em nenhuma parte das brincadeiras. 

— Vamos para casa, Scarlett! — Mamãe logo me chama enquanto termina de guardar as coisas do piquenique dentro da grande cesta. 

— Já vou! — Respondo quase de imediato. Odiava quando mamãe ficava brava, mas precisava fazer algo antes de ir. Então eu me viro para minha nova amiga e pergunto a coisa mais simples que alguém podia perguntar — Qual o seu nome? 

A garota franze o cenho, como se estivesse achando a pergunta um tanto estranho. 

— Molly — Ela responde depois de alguns segundos dando um pequeno sorriso. 

— Tudo bem, Molly, você poderia ir lá em casa algum dia para brincar.. Mas agora eu preciso ir, minha mãe está chamando! — dou um pequeno sorriso antes de acenar e sair correndo até a minha mãe que me recebe com um abraço e um beijo — Mãe, fiz uma nova amiga! O nome dela é Molly. Ela está ali perto do balanço — Digo animadamente apontando para o lugar onde minha nova amiga estava. 

Mamãe olha para onde estou apontando, mas nenhuma animação aparece em sua face e ela apenas franze o cenho. Mas depois de algumas segundos responde:

— Aí que legal, ela parece ser bem legal, você deveria convida-lá para brincar lá em casa, 

— Não se preocupe mamãe, já convidei ! 

Mais tarde escutei mamãe conversando com vovó a respeito de Molly. Não falei nada, mas achei estranho mamãe não ver Molly. 

— Não está muito tarde para ela ter amigos imaginários, mãe ? 

— Tenha calma, Sarah! Ela tem sete anos.... Meninas dessa idade ainda tem amigos imaginários, então a deixe brincar com essa Molly, daqui uns dias passa!  — Vovó deu um sorriso a qual mamãe não retribuiu. Estava preocupada, eu sentia isso. 

A verdade é que Molly apareceu na mesma noite na porta do meu quarto com um sorriso. Ela me assustou. Molly me assustava, mas ela era legal , isso que importava. 

— Posso lhe contar uma história? — disse ela ainda na porta do quarto. 

Eu assenti, e ela entrou sentando no pé da minha cama. 

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